terça-feira, 17 de setembro de 2019

Algumas pessoas não gostam de você e tudo bem.



Como aceitar o fato de que não dá para agradar a todos.


_ No começo do ano, eu e meu namorado nos mudamos para um terreno no meio do nada, em Nova Scotia. De início, parecia uma foto ideal do charme rústico. Nós dividíamos a rua apenas com uma outra família, um casal com seu bebê. Logo que mudamos, eles nos deram um presente de boas-vindas feito por eles mesmos.

_ Ao longo dos meses seguintes, entretanto, uma série de contratempos conduziu nossa relação com o pai da família para um terreno acidentado. Trabalhadores que contratamos passavam pela entrada da garagem deles, arrancando um pouco de grama. Nosso vizinho tentou entrar na nossa casa quando estávamos fora, para reparar o problema com um poço compartilhado, o que levou a uma conversa bizarra sobre limites. E depois ainda teve uma cerca de madeira que ele começou a construir - esta com frestas que claramente não foram feitas para barrar a filhinha deles.

_ Quem sabe fosse para manter vacas longes, eu sugeri, buscando no horizonte por gado que causasse problemas.

_ “Sarah”, meu namorado disse gentilmente, “a cerca não é para a filha deles ou para vacas. É porque ele não gosta de nós”.

_ Devia ser sido óbvio, dado nossa história recente - mas, ainda sim, no momento, a notícia foi como levar um soco no estômago. Não gosta de nós? Eu também não era fã de meu vizinho, porém eu senti uma enorme e imediata necessidade de resolver a situação. Eu queria que ele gostasse de mim.

_ Esse é o problema com a simpatia: É algo que devemos possuir, mas não podemos forçar. Se empenhar para virar a versão mais atraente e agradável de nós mesmos - parece um objetivo superficial e até mesmo triste. Em vez disso, nos focamos em buscar integridade. Devíamos aderir aos nossos princípios, cultivar nosso caráter e não devotar tanto espaço no cérebro se preocupando com a aprovação alheia.

_ Essa é uma grande teoria. Mas quando alguém simplesmente não gosta de você, é difícil de aceitar.

_ É incompreensivelmente perturbador quando alguém de que você gosta não retribui esse sentimento. Afinal, afeição não correspondida é como uma rejeição pessoal. Mas não gostar de alguém que você já não gosta ainda pode nos causar angustia. Somos animais sociais, ligados a um desejo de sermos amados; o jeito que cérebro processa a rejeição social se assemelha muito ao modo que ele processa a dor física. Aversão literalmente dói.

_ Então, o que se faz quando você descobre que não é do agrado de alguém, apesar dos seus melhores esforços para ser gentil e razoável com a pessoa? Essencialmente, há duas opções: Você pode trabalhar sua simpatia e tentar virar alguém que a pessoa em questão goste, ou você pode tentar não se incomodar com isso.

_ O último pode parecer mais difícil, porém, na verdade, é o mais viável entre ambos. É o que lhe dá o maior controle.

...

_ Reduzir a simpatia sobre você ajuda a entender exatamente o motivo de a acharmos tão tentadora em primeiro lugar. Parte do problema é a reflexão de quem somos, diz a psicóloga e coach executiva Sharon Melnick. “Existe um fator emocional”, ela diz. “Tem algo a ver com sua essência como uma pessoa”.

_ E ter sua essência como uma pessoa questionada é significativamente mais doloroso do que críticas isoladas e pontuais. “É muito mais digerível pensar que você apenas falou demais em uma situação, do que pensar que há algumas pessoas que não querem você por perto”, Melnick diz. “É a diferença entre ‘aquela pessoa não se preparou bastante para esse encontro’ e ‘aquela pessoa não é inteligente’”.

_ De forma meio contraintuitiva, simpatia e imagem são com frequência conceitos conflitantes, diz o psicólogo Mitch Prinstein, professor da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, e autor de Popular.

_ Quando achamos que alguém é simpático, frequentemente é porque gostamos de sua presença. “Quando as pessoas consideram alguém simpático é por sentirem-se validadas na sua presença, que compartilham dos mesmos ideais, que é reciproco e as fazem felizes”, ele diz. Gostamos de pessoas que são interessantes para nós. Não é surpresa a pesquisa (Abstract a ser traduzido em breve) mostrar que nós exibimos afeto por pessoas que perguntam e se envolvem com nossas respostas.

_ Mas imagem é diferente. Não tem a ver com fazer outras pessoas se sentirem bem. “Se baseia em o quanto alguém é visível, poderoso, influente e dominante”, diz Prinstein.

_ Para mulheres, especialmente no trabalho e em posições de liderança, essa dicotomia pode ser particularmente complicada: A Pesquisa (em inglês) tem mostrado repetidas vezes que simpatia é tanto valorizada nas mulheres como também é vista como incompatível com a competência delas, criando um tipo de duplo vínculo onde o sucesso depende e é prejudicado pela capacidade de uma mulher ser agradável.

_ É claro, há vezes em que ser agradável é recompensado de modos significativos e descomplicados - com seus sogros, por exemplo, ou com um conhecido que você está tentando ser amigo ou com um novo colega de quarto. E se esforçar em tratar com respeito e gentileza todos que você encontra deve ser uma linha de base.

_ Mas a questão é que ninguém será agradável com 100% das pessoas que encontrar. Sempre vai haver gente que não entende você ou simplesmente não gosta de você. A energia mental e emocional para tentar fazer alguém mudar de ideia tem limites, então, vale muito a pena ponderar criticamente com quais pessoas é compensador se fazer esse esforço.

_ Nos casos onde você realmente, e genuinamente, acredita que ser agradável iria tornar sua vida mais fácil ou mais prazerosa, Prinstein diz para se perguntar se o motivo da aversão não vem de algo que você está fazendo, como projetar hostilidade ou violar uma norma social. Em geral, a resposta é surpreendentemente óbvia e fácil de reparar: “Pode ser que você esteja se aproximando demais das pessoas ou falando demais de sua vida pessoal nos encontros”, ele diz.

_ Robert Cialdini, autor do livro Influence: The Psychology of Persuasion e presidente da empresa de treinamento executivo Influence at Work, cita dois comportamentos que podem tornar você mais agradável: apontar coisas em comum e fazer elogios.


Antes de lançar mão da simpatia, se pergunte o motivo de você estar incomodado por não agradar.


_ Mas não há dificuldade nisso. Em geral, alguém gostar ou não de você, se resume a questões tão nebulosas quanto química, tão insuperáveis quanto um mal-entendido de gerações, ou tão fugazes quanto o humor da pessoa no dia. Ou pode ser apenas mero preconceito.

_ Aceitar que nem todos irão gostar de você todo dia, pode ser, na verdade, um alívio. E descobrir que algumas pessoas não gostam de você - se você aceitar essa informação, ao invés de reagir de imediato - pode ser um guia útil para introspecção. Antes de lançar mão da simpatia, se pergunte o motivo de você estar incomodado por não agradar.

_ É particularmente irritante sua imagem ser afetada, mesmo que aos olhos de apenas uma única pessoa? Se esse for o caso, pense no motivo desse sentimento ser tão esmagador. Correlacionar felicidade com imagem não é exatamente sustentável, porém sentimentos de insegurança podem ser trabalhados através de terapia e reflexão.

_ Você está projetando seu próprio desconforto e insegurança ao exagerar a intensidade do desagrado? Talvez exista algo sobre você próprio que você queira mudar e a opinião dos outros parece trazer à tona esse traço em particular. Se esse for o caso, seus esforços podem ser melhor usados em se tratar a causa e não os sintomas - voltar sua atenção para você mesmo, ao invés de buscar a aprovação dos outros.

_ Você se magoou porque a pessoa conhece e desaprova o seu verdadeiro eu? Embora possa ser difícil se sentir rejeitado baseado em quem você realmente é, também se abre espaço para um momento de autodefinição: Essa é a oportunidade de se estabelecer o limite entre quem você é para si mesmo e quem você tenta ser para os outros. Tire um tempo para identificar e reavaliar seus valores - as coisas que você quer manter, independente de como você é visto pelos outros - e avalie como você está vivendo com isso.

_ A outra pessoa só o interpretou mal? “É bem possível interagir com alguém que tenha interpretado seu comportamento como agressivo ou humilhante, quando esta não foi a real intenção”, diz Prinstein. “Pode ser que ninguém mais partilhe dessa percepção. Uma pessoa vista como muito simpática por alguém, pelo mesmo motivo pode ser vista como desagradável por uma única pessoa”. É certo que pode-se tentar corrigir a visão errada que tenham a seu respeito, porém se a outra pessoa não estiver disposta a mudar de ideia, só lhe resta aceitar que a aversão criada é baseada num engano e seguir em  frente.

_ Ou seu desconforto é porque você tem muita consideração por essa tal pessoa? Sendo assim, considere o que formou sua estima por essa pessoa e como você se sente a respeito do próprio comportamento. Se você mantém suas ações ou como você se apresentou, então, talvez valha a pena repensar o quanto você permite que essa pessoa influencie na sua imagem pessoal.

_ Se, por outro lado, você acha que exista um motivo justificável para alguém estar infeliz com você , encare o problema de frente e pergunte-se se algo pode ser feito para reparar a situação ou garantir que o comportamento não se repita.

_ Na verdade, isso vale para qualquer um. Se você concluir que o que aconteceu foi, de fato, algo desagradável - que você errou com alguém de alguma forma, se foi mesquinho ou temporariamente perdeu a calma - o melhor a fazer é reconhecer seu erro, pedir desculpas e tentar fazer as pazes. A outra pessoa pode não aceitar de imediato, ou até mesmo nunca, mas pelo menos você fez o que pôde para informar que sabe a diferença entre certo e errado - e entre agradar e desagradar.

_ Em todo caso, a sinceridade é essencial. Não faça suposições e, se você não tiver certeza do que está havendo, pergunte. Afinal, comportamento social tem tudo a ver com percepção de intenção e, especialmente quando nossa comunicação está cada vez mais e mais no online, intenções podem ser facilmente má interpretadas.

_ Mas uma cerca de madeira de verdade? Isso não deixa nenhuma dúvida.

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CRÉDITOS:
> Link do texto original e de imagens ilustrativas:
https://forge.medium.com/some-people-dont-like-you-and-that-s-okay-14a310af1c81

> Autor(a): Sarah Treleaven

> Tradução:     Joab Luis
   Para contato:   joabluis02@gmail.com
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